domingo, 26 de setembro de 2010

Figura de Argumentação

Estava me lembrando daquela época quando estudávamos português para o vestibular. E sempre achei interessante a parte de figuras de linguagem. Mais que isso, sua aplicação para expandir ou comprimir os dados do que se quer dizer.

E provavelmente aquela que eu mais gosto é a Metonímia, a figura de linguagem que uma parte representa o todo.

Claro, no português, estudamos isso com uma simplicidade excessiva. Vemos a imagem em uma ou em um pequeno punhado de palavras. Mas precisamos ser tão simplistas? Por que a imagem tem que ser algo visível como uma palavra, por que não a metonímia pode ser a argumentação?

Parece uma ideia meio absurda, mas ela é notável, principalmente em argumentações falhas ou errôneas. Para mostrar isso, nada como um tema atual – Dr. Dráuzio contra os fitoterápicos.

Para quem não sabe, Dr. Dráuzio mostrou seu ceticismo em relação aos fitoterápicos e sua aplicação SUS. Muito antes disso, ele havia mostrado ser contra terapias complementares as well. (Me desculpem pela expressão em inglês. Passei um longo tempo pensando como escrever essa parte, e não achei uma expressão mais apropriada que essa.).

Porém a questão com os fitoterápicos é levemente diferente das terapias complementares, mesmo tendo o mesmo princípio de argumentação pelo Dr.

Alguns fitoterápicos não possuem, ainda, confirmações empíricas sobre sua eficácia, efeitos colaterais e interações farmacológicas. Isso para falar rápido.

Mas antes que você pare de ler, favor espere. O tema não é apenas esse, esse é um exemplo e se você se irritou, mesmo que levemente, você já está mostrando que eu estou certa.

Se você se revoltou, é por que leu tudo, mas se esqueceu que falei “ainda”, e que coloquei numa posição explicativa (Não, não falarei que oração é.). Deve-se ter calma antes de se irritar com explicações.

E foi isso que ví no texto tão odiado por estudantes e profissionais do país. Visão seletiva. Melhor: Visão seletiva pró-cólera. Doença clássica, você já teve ou viu alguém tendo.

Claro! Sim claro! Há fitoterápicos em que temos grandes conhecimentos. Conhecimentos de eficácia, farmacodinâmica, farmacocinética, efeitos colaterais, interações e, em casos especiais, temos uma extensa biblioteca de compostos secundários, com fórmula e dados clínicos, tudo sobre aquele fitoterápico que sabemos ter efeito.

Mas, quantos são assim? Essa não é uma pergunta apenas para mim. Não. Não pretendo dar as respostas mastigadas para você, apenas alguns pontos para pensar

Tanto eu, quanto você, sabemos que a relação do conhecimento com fármacos alopáticos é diferente do conhecimento com fitoterápicos. Cada um com seus problemas.

Para uma análise livre nesse caso, precisamos nos abster de comparações. Afinal, sabemos que é um terreno onde muito sangue foi derramado por causa de discussões. Igual os vizinhos homeopatia, acupuntura e horoscopo.

Então, peço que não faça comparação com outras terapias, elas podem ser feitas e talvez um dia eu fale sobre isso. Mas não é o melhor momento.

O principio maior que dita o norte para pesquisas em fitoterápicos está no “conhecimento popular” – Claro, para alguns cosméticos o cheiro é importante, mas não é o ponto dessa discussão.

Entretanto, sabemos muito bem que o “conhecimento popular” ou o “conhecimento milenar” são muitas vezes placebos ou histórias absurdas. Exemplos poderiam gerar outro texto, muito maior que esse. Mas muitas vezes, sua vó está certa.

Sabendo bem sobre essa ambiguidade do “norteador”, temos que determinar quantos são os fitoterápicos com eficácia comprovada. Após isso, devemos determinar sua segurança – Efeitos adversos e Interações medicamentosas – e então definir sua validade como tratamento no SUS.

Infelizmente, essas informações são escassas. Uma busca simples no Google te trará unicamente a legislação de diversos países e recomendações perigosas de sites não confiáveis, próximos aqueles clássicos livros de “medicina alternativas” – “Medicina Alternativa de A a Z”, “Curas

Naturais Que Eles Não Querem Que Você Saiba”.

Não podemos nos basear nisso. Apenas sua ida à biblioteca e na biblioteca virtual de artigos.

Mas, como você já notou, sou cética. Não faria nenhum sentido com minha posição te dar meus dados, afinal, você teria de ser cético com eles, com minhas interpretações dos artigos lidos e assim por diante. Você quem deve buscar. Afinal, nunca foi minha proposta dizer se devemos ou não usar fitoterápicos e se sim, quais devemos usar. Mas sim te botar a pensar.

Idem Dr. Dráuzio. Ele quer te colocar em posição cética, em posição de dúvida. Em posição de pensamento. Não para ditar como deve ser o SUS.

Ele tem mais poder que eu para passar informações, mais duvido que ele gere um movimento de descrença aos fitoterápicos. Na verdade, o que ele disser será rapidamente esquecido pelos que assistirem passivamente. Para os que absorverem algo, creio que será uma ótima experiência.

Uma ótima experiência se, é claro, não encararem como uma metonímia, pois nem sempre teremos a parte pelo todo, isto é, o comentário sobre alguns fitoterápicos não necessariamente servem a todos.

Ler, ouvir com atenção, como você teve de fazer para entrar na universidade pode ser a diferença entre uma ótima experiência e um momento de desconsideração e raiva.


Flávia Bittencourt

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