terça-feira, 23 de novembro de 2010

Não me chame Não me chame Não me chame


Não me chame de menina. Não me chame de adolescente. Já sei tanto quanto você sobre qualquer coisa.

Não é só meu corpo, não são meus cabelos, não são minhas roupas ou amigas. Olho para minha sala e vejo meninos discutindo jogos, olho para mim e me vejo no meio de crianças grandes.

Garotos desengonçados, infantis e meninas andando como mulheres.
Crescendo aqueles 10 centímetros em instantes para ir a uma festa com adultos. Com mulheres como eu e com homens de verdade.

Não me chame de menina e não me leve para a matinê. Coloco uma meia 7/8 preta e um vestido, com uma bota.

Cara e corpo adulto, idade real baixa. Não estranhe se me ver com um homem ou com um garoto que está se tornando adulto – dezoito, vinte ou vinte e poucos. Agora ando para frente. Sei o que quero.

Já sei andar de salto, já sei beijar e já sei namorar. Não me estranhe se vierem me buscar de carro, pois é com ele que estou. Já sei o que
esperar de um homem, já sei o que esperar de uma mulher. Se me vir de mãos dadas com outra garota, já saiba que ela é mais que uma amiga.

Não se assuste quando me vir com um copo na mão. Não é refrigerante. Não é cerveja – amarga e fraca – mas é vodka da mais barata, pois vocês não me deram dinheiro o bastante.

E então, ouço risos da moça do canto da mesa. E ao ouvir com cuidado noto ser o alvo – vagabunda piranha.

Eu não sei o que quero? Ninguém nunca me obrigou a nada. Ninguém me disse o que fazer. Fui por que quis. Eu fui usada? Aquela pessoa gostava de mim? E chorando no quarto, tenho meus pais ouvindo e sentindo quão criança ainda sou.

Não me chame de menina, pois dei apenas mais um passo firme mostrando como sou.

- Não. Ainda é uma criança, mas de soutien.

Eu sei o que quero, sei o que fiz. Você não sabe da vida de outros adultos, não saberá da minha. Saí com, fiz com. Não é nada, a lei está errada e você idem.

- Não. Ainda é uma criança, mas com muitas plaquetas.

Não me chame de criança, pois não quero mais. Não quero andar como uma piada entre vocês. Não quero andar com aquelas piadas com quem convivo – Crianças com corpo e cabeça pequena e idade igual.

- Ainda é uma criança. Você só acha as coisas, Quebrará muito a cara e essa não foi a ultima.

Não me chame de criança, por favor.

Flávia Bittencourt

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