quarta-feira, 6 de outubro de 2010

O Eu nu e uma noite no fim.

O que você está pensando? Está chovendo lá fora não? Sabe, esse ar seco estava fazendo meu nariz sangrar. Não, não é nada legal. E esse calor me fazia ter que tomar muito mais banho que eu tomaria em um dia normal. Como assim? Antes de ir para faculdade, depois da faculdade – para tirar aquele cheiro do laboratório – e antes de dormir. Ah, mas meu cabelo fica cheirando mal. Será que é porque você não está todo o dia comigo, ou porque você quase nunca me vê depois da aula? “Tá”, acho que posso entender, mas acho que não é para tanto. Você poderia me ligar sem motivo também. Que sentido faz? É igual aquele filme – como se chama mesmo? – que a moça recebeu flores só porque é terça. Que sentido faz? Vai acusar meu pensamento sobre o mundo? Você não sabe nada. Às vezes – mesmo eu – precisamos saber o quanto você pensa sobre nós.

O que você pensa? Claro que não sou igual às outras. Estou parecendo? Por que eu? É sério. Por que eu? Claro que me pergunto. Mas eu acho que todas as pessoas se perguntam isso. Você não? Não brinque comigo, sou mais inteligente que você pensa. Não me importo. Ainda me pergunto. Se eu quero realmente saber? Não sei. Uma vez ouvi em algum lugar que se souber o que é o melhor em você, esquecerá do resto e se focará apenas naquilo. Lógico que não, a vida é tão curta para se focar apenas em uma coisa.

E o que é ruim em você? Ser bom em algo não fará você deixar de ser pior em outra coisa.

Amanhã? Ah, além do que eu sempre faço nas quartas, acho que nada. Qualquer lugar.

Não, nesse lugar não. Sempre quis ir naquele restaurante de massas. – risos – É você que precisa emagrecer. É, acho que se você não fosse assim, teria olhado diferente para você. Melhor? Não sei, acho que não. Não gosto desse jeito de gente. Isso – risos – não faz meu tipo. Não, não precisa pagar, podemos dividir. Claro que gostaria. Do mesmo jeito que gostaria que você abrisse a porta. Igualdade? Acho que nenhuma pensa seriamente na igualdade que você está falando. É mesmo – risos – quem não gosta de galanteios. Algumas morrem sem, mas eu já tomei. Não sei mesmo, mas foram poucos. Ansiedade é normal. Tentou com alguém enquanto está comigo? Estou brincando com você. Algumas sentem inveja sim. Isso me lembra de uma música.

Que horas são? As horas podiam não passar. É, acho que é mais sono. As aulas não são boas mais. Acho que pouco me faz sentir tão bem. Sim, cansaço. De tudo e todos. Não acho que é igual com vocês. A amizade mais parece uma guerra fria com nós. Não adianta rir, é a verdade. Lembra-se daquela que eu te apresentei? Contei para ela que eu queria e ela foi na minha frente. Com vocês se um fala o outro respeita. Ah, mas quando acontece todos falam que foi sacanagem. Bem... Fiz também. Se faria mais uma vez? Está com ciúmes?

Não quero me lembrar. Por que insiste? Vou ter que me esforçar para fazer melhor. Ser só não basta. Não sei. Na verdade é mais filosófico que verdade, mas não custa nada... Na verdade custa um pouco para fazer melhor. Para começar eu teria que me levantar. Nem se eu disser que estou com sede? Então me abrace mais forte, ou poderei sair.

Não quero voltar. Essa briga não deveria ser minha. Não adianta, uma hora terei que fazer algo. O que você faria em meu lugar? Gostaria apenas de “não conseguir imaginar”. Isso é que não gosto em você. Você não pode ser mais compreensivo? É duro para mim. O amanhã poderia nem ter começado. O sol? Talvez esteja com o alarme errado. Não ligou de propósito não? A vida está correndo lá fora e sou tão lenta. É difícil também. Não é tanto. Isso é só algo que a mãe e as amigas feministas dizem, não posso ser o que quiser. Nem você pode fazer o que quiser. Não, nem de mim. As coisas são difíceis e me sinto vulnerável. Acho que deveria me arrumar.

Só vou depois do banho. Afinal, está quente lá fora.


Flávia Bittencourt

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